Meus
quatro anos...
Uma das lembranças mais forte que guardo da infância, foram
os dias vividos com minha querida e saudosa avó materna. Era negra, alta e
magra. Com longos cabelos, filha de índio. Como eu a amava! Guardo com carinho
enorme a lembrança dos fins de tarde que apreciávamos juntas. Ela cozinhava
três ovos, um para ela, uma para mim e outro para meu irmão. Pegava uma xícara
pequena de porcelana sem a alça, colocava sal e saíamos para o “lenheiro”,
lugar onde ficava a lenha. Sentávamos no lugar mais alto e ali saboreávamos os
ovos e víamos a tarde ir embora descrevendo as cores do entardecer. De repente
não tinha mais ovo cozido. Não que não houvesse os ovos. Mas, a cozinheira
desistiu de cozinhar, não por vontade própria, mas porque chegou a hora de
parar. Só restava guardar a lembrança de um rosto querido. Ovo cozido perdeu o
sabor. Não, não foi só o ovo que perdera o sabor, não. A casa perdeu o cheiro,
o quintal ficou triste, as pessoas perderam o encanto. Nesse tempo procurava
insistentemente pela minha avó. Lembrava de que ela havia me ensinado que as
pessoas um dia vão morar com Jesus. Ela tinha essa certeza de que um dia
estaria na presença dele. Então, eu a procurava na imensidão do céu azul.
Naquele tempo o velório era feito em casa e por mais que minhas tias não
deixassem ir para a sala, lembro de que escapei, arranjei um cantinho, mas
pequena, em meus quatro anos só via o caixão, em minha lembrança infantil ele
era azul claro com alguns detalhes em branco. Desenhei em minha cabecinha esses
detalhes como nuvenzinhas e essas nuvenzinhas nos meus sonhos transformavam-se
em ovelhinhas. E essa busca sempre terminava comigo escolhendo a nuvem mais
bonita do céu e dava-lhe o nome de Vó Adelina. Minha avó faleceu em 09 de
agosto de 1964, nesse dia eu completava quatro anos...
Dirce,
ResponderExcluirSua avó devia ser uma pessoa especial, seu jeitinho de tomar café lembrou bem a minha falecida mãe.
As nuvenzinhas também fizeram-me lembrar de um acontecimento na infância...
Só que no meu caso foram as estrelas no céu.
Me vi no velório da mãe de uma amiga da família, uma senhora negra, baixinha e muito boa.
Numa determinada hora sai do interior da sala onde era velado o seu corpo e fui sozinha até o quintal, sentar na soleira da porta, na cozinha.
Preocupada com meu sumiço, minha irmã saiu à minha caça e encontrou-me olhando para o céu estrelado.
Perguntou o que eu observava no céu naquela noite triste. E eu respondi baixinho: Dona Maria que virou uma estrela...
Ah, acredito que desde criança éramos sensíveis à flor da pele!
Bjksss
Que linda (apesar de triste) memória!
ResponderExcluirNossos avós queridos certamente nos guardam, de onde que que estejam.
Fiquei emocionada.
Abraço
Que linda homenagem, é sempre bom recordar aqueles que marcaram tanto nossa vida...
ResponderExcluirBjos, amiga!
Mari.
Dirce
ResponderExcluirque linda lembrança você guardou de Dona Adelina, sua avózinha querida!
Quando quiser vê-la é só olhar para o céu, haverá sempre lindas nuvens pra acalentar sua saudade.
beijo
Zizi
Dirce, que emocionante seu escrito de hoje. Minha avó também se chamava Adelina, mas não tive contato com ela, com nenhuma das avós. Uma morava em outro país e a outra era distante por si. Invejo quem teve avós por perto e tem boas lembranças. Essas lembranças valem uma vida.
ResponderExcluirAbraços