Olá minha gente querida!!! Não estou em casa, estou na casa da mama, "cuidando" de meu pai, conto na segunda feira. Hoje trago mais uma das minha lembranças para compartilhar com vocês.
Minha primeira turma
Estava com dezesseis anos,
morando numa cidadezinha do interior paranaense quando fui convidada pela
diretora da escola do meu bairro para
assumir uma turma de alunos do 2º ano. Até então, eu era secretária numa
clínica dentária mantida pelo Sindicato Rural do município. Trabalhava com o Dr
Antonio, dentista muito querido por todos, falava como o povo do Sul, pois
viera de lá, e que um dia, bem antes do convite, me disse: “Dirce, isso aqui é
muito pouco pra ti. Tu és professora e não sabes. Vá fazer Magistério.” No
momento ri, mas agradeci seus conselhos semanas depois recebi o convite. Em
nossa conversa quis saber como ela achava que eu poderia assumir uma turma de
alunos repetentes e considerados por ela mesma uma classe difícil! Ela me
respondeu: conversei com o diretor de seu colégio e ele indicou você. Aceitei o
desafio! No primeiro dia de aula, fiz uma roda, sentamos no chão e eu quis
saber o nome de cada um. Eram crianças simples, que moravam na roça, se vestiam
e calçavam precariamente. Rosa, Edmilson, João, Sara, Diabo Loiro... Perguntei
novamente o nome dele e ele respondeu: Diabo Loiro! Repeti a pergunta várias
vezes e ele repetia a mesma resposta. Expliquei que cada pessoa tem nome e que
Diabo Loiro não era um nome e ele me disse: - “Todos me chamam assim, acho que
é porque eu sou vermelho e muito briguento!”. Ali estava meu primeiro desafio,
insisti com ele e ele respondeu baixinho: Daniel. Então disse a eles que
contaria uma história de mocinho que se chamava Daniel e numa linguagem
infantil contei a história do jovem Daniel quando deixou seu povo e foi morar
num palácio, falei das dificuldades da língua, das interpretações, da cova dos
leões e de sua fé, disse também que o nome dele significava: Deus é meu juiz. E
com a classe fizemos um pacto de não chamá-lo de Diabo Loiro e sempre que os
outros o chamassem assim diríamos com delicadeza que o nome dele era
Daniel. Tinha o desafio da aprendizagem
em defasagem da turma, da “má fama” que traziam por seu comportamento, mas
esses desafios foram vencidos e no final do ano, a escola inteira conhecia e
tratava o menino vermelho de Daniel. Esse foi meu primeiro ano de professora,
recebi parabéns da diretora pela condução da classe e tive a certeza que Dr
Antonio estava certíssimo.
Um ótimo domingo, bjsssssss
Tão maravilhoso é, quando somos impulsionados a fazer algo que temos o dom. Você tinha o dom e o Dr. Antonio percebeu e te indicou pois sabia que seu caminho seria o de lecionar.
ResponderExcluirTua primeira experiência com o Daniel foi enriquecedora , com certeza encontrou outros pelo magistério e que a levaria a ser uma professora reconhecida e parabenizada.
bj
Zizi
Dirce,
ResponderExcluirVocê foi perspicaz numa época em que a maioria das professoras e professores não tinham tato o bastante para lidar com certas situações envolvendo os seus alunos.
Lembro muito bem que as coisas nas salas de aula eram resolvidas somente no grito, castigo ou no faz de conta que ninguém ouviu.
Por exemplo, eu nunca sofri preconceito racial, de forma direta, enquanto estudei.
Mas lembro-me na minha infãncia de algumas cenas envolvendo crianças negras, cuja tonalidade de pele era mais escura do que a minha e tinham os cabelos mais rebeldes do que o meu.
Essas crianças sofriam bullying diariamente com apelidos tais como: "Cabelo de Bom Bril" ou "Macaca (o)". Era muito triste ver tudo isso e pior é que os professores nada faziam a respeito, porque muitos também eram preconceituosos enrustidos.
Parabéns Dirce! Você, sem dúvida, já estava a frente do seu tempo!
Sem contar que sempre teve um coração bom.
Bjksss